quinta-feira, abril 16, 2015

COMUNICADO - "Um município com os cofres cheios e os sintrenses com os bolsos vazios"

A Assembleia Municipal de Sintra aprovou esta 3ª feira, 14 de abril, com os os votos do PS, PSD, CDU, CDS-PP e BE, a prestação de contas de 2014.
Aqui fica a declaração proferida em reunião do Executivo Municipal com os motivos do nosso sentido de voto:

"Senhor Presidente de Câmara,
Senhoras e Senhores vereadores,
Caros Colaboradores municipais, caros munícipes,

A prestação de contas de 2014 reflete a estratégia política do executivo municipal, de enriquecimento dos cofres do município, à custa tanto dos contribuintes como do enfraquecimento do tecido empresarial local ou dos beneficiários da ação social, nomeadamente da juventude, dos idosos e dos cidadãos portadores de deficiência.


As contas agora apresentadas, foram, como tem sido hábito, exemplarmente preparadas do ponto de vista financeiro, representando um excelente trabalho técnico por parte dos serviços. Dirigimos, por isso, uma palavra de reconhecimento.

No entanto, estes documentos contribuíram para colocar a descoberto o tipo de estratégia que tem vindo a ser adotada pela autarquia e que contribuiu para agravar ainda mais o empobrecimento dos sintrenses, bem como para a estagnação da atividade económica do concelho.

Esta estratégia de austeridade levada ao extremo, é bastante curiosa num executivo cuja preocupação central tem sido fazer títulos de jornais, alguns a criticar as políticas de austeridade nacionais e internacionais, mas que apresenta as taxas de impostos das mais elevadas da Área Metropolitana de Lisboa, associadas aos menores níveis de investimento alguma vez realizados pelo município nos últimos 20 anos e aos menores índices de apoio social e à atividade económica alguma vez verificados em Sintra, mais austeridade seria impossível.

O elevadíssimo nível de austeridade imposto aos sintrenses só tem paralelo com o nível de demagogia do executivo, funcionando certamente  como bandeira política de todos aqueles que defendem a manutenção de impostos elevados, a ausência de investimentos públicos e a minimização dos apoios sociais e dos incentivos às empresas, como estratégia política a seguir.

Vejamos então os números da desgraça:
- O município gerou um excedente orçamental de 48,4M€!!!!
- As disponibilidades financeiras ultrapassam os 52M€
- O investimento situou-se nos 4,4M€, representando 2,7%  das receitas e menos de um décimo do saldo gerado;
- O Funcionamento aumentou 2,7M€
- A atividade e o investimento caíram 30M€, 11M dos quais na Educação;
- As despesas com a ação social situaram-se em 1,6M€, o que representa 0.9% das receitas arrecadadas, tendo sido executados apenas 47% dos 3 milhões de euros previstos em orçamento;
- No Departamento de Cultura, Juventude e Desporto dos 2,5 milhões de euros inicialmente previstos foram realizados apenas 33,3%;
- As despesas cm o turismo, uma actividades estratégicas para o desenvolvimento do concelho, em particular para o dinamismo económico e criação de emprego, a despesa não vai além dos 142 mil € e com o apoio ao comércio não se vislumbra qualquer investimento. Ou seja, para estimular a atividade económica estratégica para o Concelho, a autarquia realizou 0,08% do conjunto da sua receita. Não fosse o trabalho o realizado pelas Parques de Sintra Monte da Lua, e em matéria de turismo o cenário seria catastrófico. Quanto ao apoio ao comércio a verba (ou a falta dela), é perfeitamente esclarecedora.

Estes números são de facto bastante elucidativos daquilo que este executivo pretende para o município, mas importará ainda debruçarmo-nos sobre os impostos:

- No IMI, mantendo uma taxa de 0,39%, uma das mais elevadas de todos os concelhos vizinhos, foram cobrados aos contribuintes sintrenses, mais 5M€ do que no ano anterior. Este montante perfeitamente abusivo, não serviu como já vimos para aumentar o investimento no município ou o apoio social aos sintrenses mais desfavorecidos, mas apenas para enriquecer os cofres da autarquia.

- No IRS, o município a a taxa de participação de 4%, quando município como Lisboa, a reduziram para 2,5%. Apesar da redução, o município continua a ir buscar por esta via mais de 11 M€ aos bolsos dos sintrenses, para engordar as suas contas bancárias, que já ultrapassam os 52M€.

Podemos aplicar ao Executivo camarário as mesmas palavras que o Secretário Geral do PS tem dirigido ao governo nos últimos dias. Um município com os cofres cheios e os sintrenses com os bolsos vazios.

Em matéria de impostos, desde o início do actual mandato autárquico, temos proposto uma redução de impostos. O tempo vem dar-nos razão.

Neste sentido, queremos demonstrar toda a nossa indignação relativamente à política de austeridade que tem vindo a ser levada a cabo neste município e que contribuiu para o enriquecimento dos cofres da Câmara à custa do empobrecimento dos sintrenses que pagam impostos.

Não nos parece que seja sustentável a manutenção deste tipo de políticas, semelhantes àquelas que nos foram impostas pela troika nos últimos anos, pelo que exigimos que o próximo Orçamento Municipal reflicta de forma drástica a redução de impostos. A seu tempo, apresentaremos novamente propostas concretas quanto aos valores dos impostos,, como o IRC, IRS e IMI.

Em qualquer outro cenário, medidas desta dimensão poderiam ser vistas como demagógicas, mas num cenário em que o município apresenta um excedente de 48,4M€, não vemos outra alternativa senão repartir a riqueza gerada com os contribuintes que se sacrificaram para a concretizar e que esperavam, no mínimo, algum investimento no concelho, que lhes permitisse uma melhor qualidade de vida, um apoio significativo aos desfavorecidos, que lhes permitisse combater situações muitíssimo complicadas de pobreza, agravadas pelo elevadíssimo nível de desemprego, sobretudo entre os mais jovens e maiores incentivos ao tecido empresarial, que poderia até ser concretizado pela despesa realizada pela autarquia, tanto na aquisição de bens e serviços como na realização de empreitadas.

Este executivo, por opção política, nada conseguiu dar de retorno aos sintrenses, para o qual bastaria cumprir executar condignamente as competências que lhe estão atribuídas. Parece-nos que repor a justiça social é o único caminho a percorrer. Assim, A redução dos impostos municipais que aqui proporemos, significará uma redução das receitas da autarquia, em cerca de 15M€, aliviando as famílias e as empresas, e ao mesmo tempo libertar cerca de 25M€ para o investimento, para as políticas sociais e económicas.

Esperemos que em desta reposição da justiça e do cumprimento das suas competências básicas, não venha agora o município entreter-nos a todos com novas operações financeiras, de elevada relevância exclusivamente para os cofres da Câmara, deixando os contribuintes sem perceber para que servem exatamente os impostos que pagam ao município, quando não vêm as suas vidas a melhorar no dia a dia.

Mas para além de tudo isto, não podemos deixar de ficar ainda mais preocupados com o nível de impostos até agora praticados, quando pensamos que em 2015, devido ao fim das cláusulas de salvaguarda no IMI e ao aumento expectável das receitas do Estado com o IRS, serão retirados das famílias sintrenses muitos mais milhões do que àqueles que foram subtraídos em 2014, o que nos faz pensar que face à inexistência de investimentos, de apoios sociais relevantes e de incentivos às empresas e às juntas de freguesia, estaremos aqui, daqui por 1 ano, a debater tudo aquilo que não foi feito em Sintra, acompanhado de um saldo em caixa que ultrapassará os 70 ou 80 M€.

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores vereadores,

A prestação de contas de 2014 é rigorosa do ponto de vista técnico, transparente quanto à aplicação dos dinheiros públicos, mas um desastre quanto às opções políticas. Impostos elevados em contexto de crise económica e social, ausência de investimento na qualificação do espaço público, quebra de compromissos com as juntas de freguesia, ausência de apoio ao tecido empresarial, ausência de políticas de qualificação das condições de trabalho dos colaboradores municipais e falta de solidariedade para com as associações das nossas comunidades.

No entanto, a prestação de contas de 2014 é exigente do ponto de vista técnico, transparente quanto à aplicação dos dinheiros públicos, mesmo se um desastre quanto às opções políticas.
E é no justo equilíbrio entre estas posições, em que se por um lado nos distanciamos quanto à estratégia política, por outro reconhecemos o rigor e o cuidado que se viram colocados na sua apresentação, que a decisão pela abstenção na votação encontra expressão.

Esses são, aliás, os pressupostos para que o nosso voto nesta matéria e em futuras situações, vá no mesmo sentido."

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